domingo, 28 de junho de 2009

A santidade contra a Igreja Católica e os Jesuítas.*

*Por: Cristiano Catarin



Os que aderiam à santidade, aqui inclui-se "negros" da terra (escravos), posicionavam-se contra os senhores e contra os brancos, questionando o Deus católico. O índio Silvestre foi um personagem nesta condição, e acabou açoitado e posto em grilhões pelo seu próprio senhor."Os índios zombavam dos padres e dos sacramentos por eles ministradas, alardeando que a verdadeira fé era a sua, assim como deus era o seu ídolo, e santos os seus caraíbas. {Quando os brancos iam ouvir missa} -- contou Álvaro Rodrigues -- {eles (os índios) davam apupadas dizendo que os brancos andava muito tempo errados naquela erronia de cristãos} (...), escrava de um ferreiro em Parpe, costumava zombar da hóstia consagrada e do próprio Deus cristão" ...Os adeptos da santidade ameaçavam os "nativos traidores" (índios) com as piores penas. Na verdade, uma metamorfose punitiva, como chamou Vainfas, ameaçavam transformar os resistentes em animais, pedras, paus, etc.O mito da Terra sem Mal, conta o autor, revela o maior inimigo do índio: o homem branco, os portugueses, o cativeiro, sua Igreja dos padres, a lei dos cristãos..., temos, portanto, um sentido anticolonialista, O autor diz também que, paradoxalmente, algumas dimensões do catolicismo também fora absolvido pela santidade, dizendo, por exemplo, da semelhança havida entre a Terra sem Mal e o paraíso celestial cristão.

"a igreja dos índios -- diziam -- era a verdadeira santidade para ir ao céu, porque a dos cristãos era falsa e não merecia que nela se acreditasse".O fato é que praticamente todo o litoral brasileiro passou a conhecer este termo santidade, e também seu significado. A busca da Terra sem Mal significava uma "guerra" contra os portugueses, contra a escravidão, etc. A mais importante santidade ocorreu no recôncavo baiano, liderada por Antônio, nome de batismo, ancestral dos tupinambá. Esse líder de Jaguaripe, foi um dos exemplos práticos dos perigos da tradução feita pelos jesuítas do catolicismo para ingua e o imaginário Tupi. Antônio entoava cerimônias de batismo, nomeava papas, bailes tribais, orações, sua companheira era chamada de Maria Mãe de Deus, estava, portanto, feita a fusão católica e indígena.Em suma, a história demonstra as aproximações da Terra sem Mal dos tupis com as alusões jesuísticas, os portugueses católicos que conseguiram enganar os "homens gentios" dizendo sobre a Terra prometida (Jerusalém), quando na verdade, esta terra fora travestida nas fazendas de escravos.A perseguição do Santo Oficio de Lisboa contra Jaguaripe (idolatrias indígenas) e o Acotundá (idolatrias negras)O Santo Oficio tinha muito a fazer, conforme afirma Ronaldo Vainfas: "teria de enfrentar não apenas interpretações heterodoxas do divino, mas múltiplos santos pelo avesso". De acordo com o autor, a rigorosidade do Santo Oficio, em suas visitações realizadas na "Bahia de todos os santos", apresentou-se menos intensificada com relação aos negros, de acordo com relatos do Acotundá, tal comportamento, segundo Ronaldo, deve-se principalmente com relação a escravidão que não podia, de forma alguma, sofrer um enfraquecimento.A perseguição frente aos cristãos novosDiferentemente aconteceu com os judeus (cristãos novos) convertidos a força por D. Manuel I em 1497 em Lisboa. Muitos destes fugiram para o Brasil, com receio da inquisição instalada em Portugal entre 1536 e 1540.Esta estratégia dos cristãos novos deu certo por um bom tempo, pois não havia presença da inquisição na colônia. Evaldo Cabral de Mello evidencia que estes judeus foram importantes para o desenvolvimento, sobretudo em Pernambuco, da açucarocracia, termo adotado por este magnífico historiador.O quadro mudou-se com a visitação em 1591 na Bahia e Pernambuco, enviado pelo Santo Oficio de Lisboa, o visitador Heitor Furtado de Mendonça, para verificar denúncias de heresia contra o catolicismo.Judaizar em segredo, esta foi uma das inúmeras acusações proferidas por Heitor. Muitos foram julgados e condenados à fogueira. Ana Rodrigues, moradora da Bahia foi sentenciada, ficou trancada em Lisboa até sua morte chegar, segundo relatos, aos 100 anos de idade. Após seu enterro foi decretara sua condenação a fogueira, então desenterram-na e queimaram seus ossos.A perseguição atravessava o século XVII, os judeus eram criminosos à vista da época. Vainfas revela que a força do judaísmo, com o passar do tempo, foi cada vez mais enfraquecendo, demonstrando-se como cultos superficiais e secretos, como cerimônias domésticas. Segundo o autor, "até mesmo o judaísmo acabou se cristianizando, à moda católica, nessa época, transitando de uma cultura ode letras para uma economia de gestos".Vainfas diz ainda que os cristãos novos, devido a obrigatoriedade exercida pelos "verdadeiros cristãos de Lisboa", de se seguir o catolicismo, adorando imagens, criou uma revolta muito grande, revolta que muitas vezes era manifestada com maus tratos a imagens de santos, por exemplo, a banalização do crucifixo. Para os "verdadeiros cristãos" os judeus eram os piores hereges, para alguns estudiosos do assunto, afirma o autor, os atos dos cristãos novos nada mais era do que vingança.Contudo, a vida cotidiana dos colonos no novo mundo não fora nada tranqüila, muito pelo contrário, seja os cristãos novos, seja os inacianos, todos viveram momentos de angústia e indefinições, momentos de constante contato com as dificuldades ora elaboradas por seus costumes, ora por seus inimigos de religião. A verdade é que tanto o céu com o inferno eram atingidos com extrema facilidade, diante de tantas dificuldades no dia -- a dia, os pedidos para santos e derivados eram inúmeros, bastava que um destes pedidos não fossem atendidos para o espírito de rebeldia se manifestar contra os ícones da fé católica cristã.

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